TDAH na adolescência: o que é, diagnóstico, tratamento e como os pais podem ajudar os filhos
Preparamos um guia completo sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e os desafios do diagnóstico na adolescência
Seu filho adolescente vive no mundo da lua? Não presta atenção em nada? Esquece roupas ou material escolar em todos os lugares? Tem dificuldade de ouvir, de seguir regras, de organizar o quarto e os seus pertences?
Todas essas características aparecem em algum nível ou momento, sobretudo ao longo da infância ou da adolescência. Mas se tornam constantes e fogem do controle diante do TDAH, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Isso significa que os sintomas têm impacto considerável no aprendizado, nas relações sociais e no desenvolvimento escolar e profissional de crianças, adolescentes e adultos.
Mas, afinal, o que é o TDAH?
“O TDAH é um transtorno de base neurológica. Ou seja, a pessoa nasce com essa vulnerabilidade e a partir de determinado momento, em geral, na infância, passa a expressar os sintomas de falta de atenção e hiperatividade”, explica o psiquiatra Daniel Segenreich, vice-presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA). Segundo a mesma Associação, o TDAH é o transtorno de causas genéticas mais comum entre crianças e adolescentes, ocorrendo com uma incidência de 3 a 5% das crianças. Ele acompanha os indivíduos ao longo de toda sua vida, mas suas características podem ser trabalhadas e os sinais abrandados com o tempo. Segundo Segenreich, existem níveis classificados em leve, moderado e grave. Eles estão associados à quantidade e à intensidade dos sintomas e o grau de comprometimento.
TDAH na adolescência
“Quando diagnosticado na adolescência, o TDAH frequentemente é acompanhado de outras comorbidades, como transtornos de ansiedade, sintomas depressivos e prejuízos escolares, que se acumularam ao longo dos anos. Há ainda a possibilidade desse adolescente desenvolver problemas de comportamento, como transtorno opositivo ou de conduta”, alerta o psiquiatra Sergio Nolasco, com especialização em psiquiatria e psiquiatria da infância e adolescência na Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. O especialista explica que também há um risco aumentado de dependência química em pessoas com TDAH sem diagnóstico — o que costuma iniciar na adolescência. “O desafio é tratar as comorbidades que se apresentam junto com os sintomas de TDAH, mas ainda cursar com uma melhora importante e de grande impacto positivo na vida do paciente”, afirma Nolasco.
Sintomas
O TDAH é caracterizado pela presença de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Ao todo, essa condição possui 18 sintomas, divididos em 3 grupos: 9 relacionados à desatenção, 6 à hiperatividade e 3 à impulsividade. Dentro da desatenção, alguns sintomas diversos que podem sinalizar o transtorno vão desde começar uma tarefa e não terminar, não se atentar a detalhes durante a execução de algo ou distratibilidade, ou seja, uma facilidade demasiada de desviar a atenção por estímulos externos insignificantes.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, feito por meio da avaliação de um profissional experiente e habilitado. No caso da criança e do adolescente, ele é feito com a presença de seis sintomas, que não necessariamente aparecem juntos. Na criança, é mais comum notar os sinais de impulsividade e hiperatividade. Mas com o passar dos anos, no caso dos adolescentes, os sinais de desatenção podem se intensificar, levando em conta que, muitas vezes, o paciente passa a ter um autocontrole da hiperatividade e impulsividade.
De forma geral, os estudos mostram maior incidência de casos em meninos, no entanto, existe uma ideia de que as meninas podem ter um quadro mais voltado para desatenção e, dessa forma, menos observável e diagnosticável.
Tratamento
Na maioria dos casos, o tratamento é multidisciplinar e envolve psiquiatra ou neuropediatra, psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo — que faz a interface com a escola —, além de professores e mediadores em sala de aula, de acordo com os prejuízos apresentados pelo paciente nas diferentes áreas do desenvolvimento.
“O uso de medicamentos em adolescentes é comum, já que os remédios garantem uma boa resposta terapêutica, enquanto outras estratégias de tratamento dificilmente atingem a mesma taxa de resposta nos sintomas do TDAH”, explica Nolasco.
Medicamentos
O TDAH é tratado com medicações estimulantes e não-estimulantes. No Brasil, havia apenas opções estimulantes disponíveis, como o metilfenidato e o lisdexanfetamina. Elas formam um grupo de primeira indicação porque têm um tamanho de ação maior.
No entanto, uma nova opção acaba de chegar ao Brasil. Em julho deste ano, o primeiro medicamento à base de atomoxetina foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa molécula já é usada nos Estados Unidos desde 2002 e, agora, chegou aos pacientes brasileiros por meio da Apsen Farmacêutica. “Este é o primeiro medicamento não-estimulante com indicação em bula para o tratamento de TDAH”, explica Segenreich.
A droga tem um mecanismo de ação mais específico. Estimula o foco e a concentração sem interferir no sistema de recompensa cerebral — justamente a atuação dos psicoestimulantes, que aumentam o risco de dependência e outras reações adversas [leia mais abaixo]. Mas, justamente pela atuação mais controlada, prevê-se certa demora para apresentar resultados, em relação aos estimulantes comuns. Estudos mostram que o medicamento à base de atomoxetina começa a ter um efeito mais robusto a partir de oito semanas de uso.
Efeitos colaterais
O paciente ao usar o medicamento à base de atomoxetina pode ter náusea, vômito, dores abdominais, constipação, boca seca, perda de apetite, dor de cabeça, sonolência ou insônia e alterações no humor. O remédio ainda pode causar disfunções cardíacas em quem tem histórico de problemas no coração. No entanto, os especialistas garantem que os efeitos colaterais são leves e devem desaparecer depois que o corpo se adapta ao uso da medicação.
Já os remédios estimulantes, que já vinham sendo usados no país, em geral acarretam aos pacientes a perda de apetite, especialmente no início do tratamento, e prejuízos ao sono. Por isso, os especialistas pedem que os medicamentos sejam administrados no período da manhã. Há, ainda, relatos de dor de cabeça, aumento da frequência cardíaca e discreto aumento da pressão arterial.
Risco de dependência química no caso dos estimulantes
“A medicação, quando orientada por uma equipe multidisciplinar, tomada na dose e horários certos, não está associada à dependência química”, garante Segenreich. Na verdade, quando a medicação é iniciada na infância, ela tende a diminuir os riscos de dependência química de substâncias ilícitas na adolescência e na fase adulta.
Existem casos, no entanto, nos quais as pessoas tomam as medicações indiscriminadamente, sem ter o diagnóstico de TDAH. Nesses casos, a medicação está, sim, associada ao risco de dependência.
No caso do TDAH, os remédios são usados diariamente, sem exceção. Ao longo dos anos, é necessária uma revisão e, eventualmente, diminuição e retirada da medicação. "Diferente do antidepressivo, a medicação estimulante não gera síndrome da retirada e não precisa se acumular para começar a ter efeito", explica Segenreich.
O papel dos pais e da escola
Os pais e a escola fazem parte da equipe multidisciplinar que acompanham esse adolescente com TDAH. Eles, inclusive, têm um papel fundamental. A convivência escolar transforma o professor em uma das primeiras pessoas a perceber comportamentos que podem dificultar o desenvolvimento da criança. Cabe a ele, apoiado pelo corpo escolar, à família e aos profissionais que acompanham o tratamento de um aluno com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade manter a atenção nas condições de aprendizagem.
Diante dessa observação, ele deve buscar os pais para uma primeira conversa. Cabe, então, aos pais e cuidadores, providenciar que esse adolescente seja avaliado por um especialista, junto com as informações trazidas pelo professor e outras observações da família. A comunicação entre todos da equipe multidisciplinar é fundamental para o sucesso do tratamento.