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Saúde mental pós-pandemia: uma preocupação mundial com crianças e adolescentes

Em 2020, o mundo inteiro vivenciou o impacto causado pela pandemia na vida da população. O isolamento social exigido para atenuar a propagação da Covid-19 está interferindo diretamente na saúde mental de todas as pessoas. Para crianças e adolescentes especialmente, atividades fundamentais para sua formação, como participar de encontros presenciais, conversar com amigos, praticar esportes coletivos, assistir às aulas, entre outras, foram ameaçadas.


O fato de ficar em casa por muito tempo, a ausência dos colegas e a falta de interação com a comunidade, aliados à responsabilidade de cumprir, muitas vezes sozinhos, as tarefas da escola, ao medo do contágio e à incerteza do fim do isolamento, têm gerado um aumento nos relatos de ansiedade, angústia, tristeza e estresse. Do mesmo modo, o retorno às atividades sem a mesma liberdade impôs uma nova forma de viver, afetando ainda mais a estabilidade emocional dessa população, que naturalmente já é fragilizada.


Antes da pandemia de Covid-19, as taxas de ansiedade e sintomas depressivos de crianças e jovens variavam de, aproximadamente, 5 a 10%, e estudos recentes mostram que as taxas de prevalência de sintomas de ansiedade e depressão dobraram no momento atual.


Nessa população, a estrutura e o senso de normalidade ajudam a estabelecer uma estabilidade emocional, por isso os vínculos com a escola, a família e a Internet tiveram que ser ressignificados para tentar melhorar a ansiedade e o estranhamento da situação. Para ajudá-los a ter um convívio social saudável, visando a uma menor sobrecarga mental, devemos conversar abertamente com as crianças e os adolescentes e ficarmos atentos às suas dúvidas e aos seus interesses. Outra forma importante de colaboração para a busca de um equilíbrio é manter hábitos sociais e emocionais saudáveis, assim como elaborar uma programação de atividades diárias, como acordar, tomar banho, trocar de roupa, estudar, se alimentar, se exercitar e dormir, não nos esquecendo, principalmente, de monitorar alterações bruscas do comportamento.


Em geral, nessas fases, eles não expressam claramente que estão em sofrimento profundo, sendo que alguns demonstram comportamentos que indicam que estão tendo algum problema. Do ponto de vista familiar, em caso de instabilidade emocional, valide e legitime os sentimentos, e não minimize as queixas e os sofrimentos. Lembre-se, em caso de dúvida, procure ajuda profissional.

 

VANESSA SCHAKER
Médica | Psiquiatra da Infância e Adolescência (PUCRS) | Doutoranda em Bioquímica (UFRGS)

 

Referências
GOLBERSTEIN, E.; WEN, H.; MILLER, B. F. Coronavirus disease 2019 (COVID-19) and mental health for children and adolescents. JAMA Pediatrics, v. 174, n. 9, p. 819-820, 2020. Doi: 10.1001/jamapediatrics.2020.1456.


LEE, J. Mental health effects of school closures during COVID-19. The Lancet Child & Adolescent Health, v. 4, n. 6, 2020, p. 421. Doi: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30109-7.


RACINE, N.; MCARTHUR, B. A.; COOKE, J. E.; EIRICH, R.; ZHU, J.; MADIGAN, S. Global Prevalence of Depressive and Anxiety Symptoms in Children and Adolescents During COVID-19: A Meta-analysis. JAMA Pediatrics, 2021. Doi: 10.1001/jamapediatrics.2021.2482.