Pesquisa mostra que desinformação sobre vacinas coloca crianças em risco
A maioria dos brasileiros confia nas vacinas e reconhece a importância delas para a saúde, mas uma parcela considerável de pessoas hesita em se imunizar e vacinar seus filhos devido à desinformação.
A maioria dos brasileiros confia nas vacinas e reconhece a importância delas para a saúde, mas uma parcela considerável de pessoas hesita em se imunizar e vacinar seus filhos devido à desinformação. Em uma pesquisa feita pelo Conselho do Ministério Público, com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e a Universidade Santo Amaro (Unisa), entre janeiro e fevereiro passados, 21% dos 3 mil entrevistados em todas as regiões do país disseram já ter deixado de se vacinar ou vacinar seus filhos após terem visto informação negativa sobre imunizantes em redes sociais ou no WhatsApp.
Metade dos que responderam à pesquisa disseram ainda já ter recebido recomendação de conhecidos, amigos ou parentes para não tomar vacinas do calendário básico do Ministério da Saúde ou não imunizar os filhos. Outros 27% dizem ter sentido medo de vacinas e 19% consideram vacinas pouco ou nada seguras.
Entre os receosos, 66% citam medo de efeitos colaterais graves e 22%, da agulha.
Apesar da hesitação, 90% reconheceram a importância das vacinas para a saúde e 70% disseram confiar nelas. Na avaliação dos entrevistados, a queda na vacinação no país é causada por notícias falsas (54%), falta de esclarecimento sobre vacinas (36%) e desinformação ou ignorância (6%).
— Há uma parcela dos brasileiros que foi afetada pelo discurso antivacina. Quando recebem uma fake news, mandam no grupo da família: “Isso é verdade?”, “Viram isso?”. E a dúvida se alastra como vírus. Mas se acontecer um surto de alguma doença, pode ter certeza que os postos de vacinação ficarão lotados — diz a pediatra Isabella Balalai, que integra o comitê técnico do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM).
Isabella lembra que houve muita desinformação sobre vacinas, inclusive por parte de autoridades, durante a pandemia de Covid-19.
— Tinha até aquela história de virar jacaré, de não se responsabilizar pela segurança da vacina. Mas quando chegaram as primeiras doses, o que se viu foram brasileiros brigando pelo direito de tomar a vacina. Muitos deles, se pudessem, diziam ter comorbidades para serem vacinados logo – relembra.
De acordo com a pesquisa, a maior hesitação em relação às vacinas surge em segmentos da população com instrução até o Ensino Fundamental, renda mensal até dois salários mínimos, idade até 59 anos, evangélicos e moradores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Nada menos do que 64% dos entrevistados disseram se informar sobre vacinas nas redes sociais, principalmente Instagram e Facebook. Mas 97% sabem onde devem levar os filhos para serem imunizados (citam as Unidades Básicas de Saúde) e 73% avaliam como ótimo ou bom o serviço oferecido em seus municípios.
Perguntados sobre dificuldades encontradas para tomar vacinas ou vacinar os filhos, 17% dizem elas não estão disponíveis, 11% que o tempo de espera é muito longo, 8% que o horário dos postos é inconveniente e 5% que não conseguem sair do trabalho para levar os filhos para serem vacinados.
Risco de coqueluque aumenta no Rio e SP por baixa vacinação
A queda nos índices de imunização preocupa. A Europa atravessa um surto de coqueluche (tosse comprida), que é uma infecção altamente contagiosa. Em maio passado a União Europeia informou que 17 países registravam aumento da doença, com 32.037 casos notificados apenas nos primeiros três meses deste ano. Houve mortes este ano República Tcheca e Holanda. Na China foram registrados 32.380 casos, contra apenas 22 em 2023.
Na semana passada, a Secretaria de Saúde do Rio emitiu alerta sobre o aumento da incidência da coqueluche. Este ano foram registrados 34 casos até a última quinta-feira. Em 2023 houve oito confirmações.
A Prefeitura de São Paulo informou que foram confirmados este ano, até o dia 5 de junho, 105 casos da doença, a maioria entre crianças e jovens de 10 a 19 anos de idade.
Apesar do risco, os índices de vacinação contra a coqueluche no Rio de Janeiro e São Paulo estão baixos. O imunizante obrigatório para bebês (2, 4 e seis meses) é a Pentavalente. É preciso reforço aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
Segundo dados do Ministério da Saúde, enquanto a média de imunização do país é de 82,94%, o Rio registra uma taxa de apenas 72,46% e São Paulo, de 74,36%.
Como base de comparação, Minas Gerais tem um índice de 83,3% e o Espírito Santo de 91,16%. Os estados do Nordeste também estão em melhor situação, com média de 87,86, embora também abaixo da meta de 95%.
A vacina DTP é destinada a crianças de 15 meses e 4 anos e também está disponível a DTpa Adulto. A coqueluche transmitida principalmente por meio de gotículas e secreções eliminadas pela fala, a tosse ou espirro.
Isabella afirma que uma parcela dos brasileiros se mostra confusa e defende uma comunicação mais empática e comportamental, que atinja o coração das pessoas para que elas percebam a importância da imunização.
Para incentivar a vacinação, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) adotou no Brasil uma estratégia de busca ativa por crianças não vacinadas nos últimos anos. A ação inclui suporte aos municípios para que consigam atender as famílias, com a criação de salas de vacinação capazes de funcionar em horários diferenciados.
Luciana Phebo, do Unicef, afirma que é preciso ultrapassar os muros da saúde, envolvendo na busca ativa as secretarias de educação e as unidades dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) dos municípios.
— O importante é não deixar nenhuma criança para trás — diz ela.
Fonte: Andi Comunicação e Direitos