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O amor não é amado: o grito contido de quem sofre violência sexual

O dia 18 de maio é o dia Nacional de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. A data ocupa o nosso calendário depois do fatídico e deplorável acontecimento de 1973, em que Araceli Cabrera Crespo, de apenas 8 anos, foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada. Para agravar a situação, o caso foi jogado nos porões da impunidade.

Sabe-se que o tratamento dado à infância foi nebuloso no curso da história. Até o século XV, tem-se uma infância negada, e as crianças representadas como mini adultos. Do século XVI ao XVIII, uma infância industrializada. Apenas após esse período, surgiram movimentos para uma infância de direitos, com novas ciências, os quais demonstraram sua importância para o desenvolvimento humano e a relação de alguns traumas nessa fase, que impactam diretamente no comportamento adulto, segundo abordagem de Franco Frabboni. No campo legal, surgiram leis, convenções e declarações. Apesar de todo esse esforço, ao longo dos anos, a teoria ainda se encontra dissociada da prática.

Custa acreditar, por isso, que ainda hoje, apesar de todo o sistema de proteção, as estatísticas de abuso e de violência sexual ocupam o cenário nacional. São seres indefesos, tão genuínos que frequentemente são comparados a anjos, muitas vezes representados como a materialização do amor, mas sofrem as maiores barbáries e, na maioria dos casos, por autores que deveriam proteger, que deveriam amar e cuidar. Isso faz lembrar uma passagem de São Francisco de Assis, que dizia que o amor não era amado. É a sensação que passa quando estão estampadas notícias de abuso e de violência nos meios de comunicação. O amor mais genuíno é vilipendiado, deixando uma dor eterna e muitas vezes condenando as vítimas ao silêncio e ao sofrimento interior por ineficiência do sistema de proteção e demais fatores sociais.

E, com pesar, superando todos os nossos predicados de humanidade, de cuidado e evolução, os autores dos atos de violência sexual estão entranhados nas diversas classes sociais, nas diversas profissões, no ambiente sagrado e profano e, lamentavelmente, em grande percentual, no seio da família. Precisa--se, urgentemente, encontrar formas de reduzir e eliminar a violência e o abuso sexual, feridas que denunciam uma parcela de perversão da nossa sociedade porque, segundo Nelson Mandela, “ não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade, do que a forma como essa trata as suas crianças”. Esse cuidado e amor também são premissas dos propósitos educacionais do fundador da Rede Marista, Marcelino Champagnat, que dizia: para bem educar, é preciso antes de tudo amar e amar a todos igualmente. Faça a sua parte e, diante de qualquer violação de direitos envolvendo crianças e adolescentes, dê ciência aos órgãos competentes.

 

Ir. SANDRO BOBRZYK - Coordenador do Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente