Bem simples
— O Dia das Crianças deveria ser dos Pais, das Mães... tudo no mesmo dia, porque não existem crianças sem pais, nem pais sem crianças.
Disse-me a menina.
O que ela vê?
Talvez, que cada ser tenha uma origem.
E que a origem está sempre próxima ao que parece existir de mais delicado na criança.
Pode estar sugerindo até que isso mereceria uma grande celebração: da união intrínseca à vida.
No fundo, é provável também que perceba uma desconexão. E inspire uma solução. Simples!
Podemos pensar, aqui entre nós:
— Ah! Que amor. As crianças são tão puras. É bem mais complicado que isso.
E é! O abandono, a morte ou qualquer outro porém podem tornar obscura a paisagem da origem. Mas, para as crianças, por vezes mais matemáticas do que os adultos, toda criança tem pai, mãe, é o que a sua verdade constitutiva lhe sussurra. Ainda que essas presenças não se deem às vistas.
A menina suspeita que interagimos com aquilo que vemos, e com o que não vemos.
— Mas ela não tem mãe! — Mas ele perdeu o pai!
Frases comuns do dia a dia. Triste! A criança que ouve isso sobre sua origem, direta ou indiretamente, pode vir a pensar:
— Não tenho, ou perdi, metade de mim!
E passar a levar um semi-vida: fazer tudo pela metade, procurar incansavelmente por algo que supra um vazio, pode até adoecer fisicamente, repetidas vezes. Talvez ela se desorganize, cause desconfortos, transtornos, venha a ter de receber laudos, diversas medicações, e por aí afora, contribuindo com a tristeza daqueles que se sentem impotentes diante das complicações da vida.
É assim que as palavras nos marcam. Pelas obras e trajetórias de Françoise e Catherine Dolto, aprendemos que as palavras, ditas e não ditas às crianças, podem condenar ou libertar.
“Nem toda doença é uma verdadeira doença”, defendem em seus legados. E muitas são causadas pelas nossas interações do dia a dia. Cuidando bem disso, todos os dias, desde as nossas origens, conseguimos lidar bem até com os destinos das nossas origens.
Prevenimos a saúde integral. Promovemos uma vida inteira.
É um Bem! Simples.
Juliana Tonin
Comunicóloga. Doutora em Comunicação com Pós-doutorado em Sociologia da Infância (Paris V – Sorbonne).
Autora da Comunicologia Doltoniana. Para ler mais: Comunicação com Crianças: princípios de uma comunicologia doltoniana. Porto Alegre: AGE, 2024.
Disponível em: https://www.editoraage.com.br/Categoria/comunicacao-com-criancas---principios-de-uma-comunicologia-doltoniana-2105/p?srsltid=AfmBOoqmYpFBkQOmHM3YN094364tkBqdtQesBNCS-AFIq9Sm5A2Aczpz